Pantanal é o baú de ouro no fim do arco-íris da Globo

 

Há dez anos atrás o brasileiro parava tudo que estava fazendo para vidrar seus olhos na telinha. Quem não estava em casa no horário, procurava por uma televisão na rua, em um bar, farmácia, restaurante, mercado. Tudo para não perder nenhum capítulo de Avenida Brasil.

A novela que atingiu altos índices de audiência em 2012, é considerada por muitos até hoje uma das melhores novelas dos últimos tempos. E desde então vinha mantendo sua popularidade.

Como águas passadas não movem moinhos, a emissora vinha tentando de várias maneiras alavancar seus novos produtos da faixa das 21h. Algumas produções chegaram a escrever seus nomes na história como: Salve Jorge, Império, A Força do Querer e Amor de Mãe.

Mas em todas elas faltava algo que sobrou em Avenida Brasil: o encantamento generalizado.

Claro que nós nos encantamos com a força de Dra. Helô, com a liderança de Zé Alfredo, com a resiliência de Bibi Perigosa e com a simplicidade de Dona Lurdes.

Mas perceba, são alguns pontos que marcaram uma novela inteira.


Quando digo encantamento generalizado, eu quero dizer que é possível lembrar da Carminha e da Nina (Rita), mas não conseguimos esquecer também da família do Tufão falando todos ao mesmo tempo, do salão cheio da Monaliza, do Cadinho e suas esposas, do Lixão da Vó Lucinda, e tantos outros elementos que fizeram da novela um sucesso, incluindo a improvisada cena de Cacau Protásio ao cantar “Eu quero ver tu me chamar de amendoim”.


E depois de tantos anos em busca de um produto que fizesse um sucesso parecido com o de Avenida Brasil, a emissora finalmente encontrou um arco-íris no qual fosse capaz de chegar até a ponta e alcançar seu tesouro. Tesouro esse chamado de Pantanal.

O Remake da novela de Benedito Rui Barbosa, originalmente transmitida na extinta TV Manchete, trouxe para a tela a leveza de um povo simples. E o primeiro ponto a se destacar para o sucesso da trama é justamente ela ser o oposto da novela anterior, Um Lugar ao Sol. Quando antes víamos Christian querendo sair da pobreza, crescer na vida e conseguindo isso as custas de muitas mentiras e enganações, hoje vemos personagens que se orgulham de suas raízes. E mais, vemos personagens como Jove, Irma, Madelaine, que tentam, cada um à sua maneira, se encaixar nesse modelo de vida.

Outro ponto importante para o triunfo da novela foi o investimento da emissora na produção. A ida da equipe técnica, da direção e, principalmente, do elenco para o Pantanal de fato foi uma estratégia muito inteligente. 6 Fazendas foram usadas (3 como locação), mais de 10 caminhões viajaram até o Mato Grosso do Sul levando em torno de 140 toneladas de material (equipamentos, figurinos, cenografia, objetos de cena, etc), 150 pessoas envolvidas entre elenco, direção, equipe técnica e de arte. Com o elenco entrosado, a vontade entre eles e com o ambiente real, a verossimilhança foi espetacularmente criada, e não tem como o público não mergulhar na história onde os atores, e a equipe como um todo, estão nadando de braçada.

E por último, mas não menos importante, o texto original de Benedito Rui Barbosa é um primor. Só um autor com muito talento saberia fazer o público acreditar num Velho do Rio que vira cobra, e em mulher que vira onça. E provando que neto de tubarão peixinho é, Bruno Luperi está fazendo um trabalho extraordinário na adaptação da trama de 1990. O autor responsável pelo remake, ainda nem entregou os capítulos finais de Pantanal, e já tem data para voltar a escrever (ou no caso nem parar). Estamos falando de “O Arroz de Palma”, que depois de muito ser adiada (desde 2017), a emissora resolveu finalmente aprovar o roteiro da novela. Ela deve substituir “Mar do Serão” prevista para terminar em fevereiro de 2023, apenas quatro meses depois do fim de Pantanal, programado para outubro desse ano.         

Teria Pantanal alavancado não somente a audiência do canal, mas também a carreira de Bruno? Vale lembrar que o neto de Benedito teve sua estreia no horário nobre prejudicada pelos desastres em Velho Chico, lembrada somente pela tragédia com o ator Domingos Montagner.

Pantanal veio como um grande respiro de ar puro para a emissora carioca, que a tantos anos clamava por uma novela de sucesso novamente. O encantamento generalizado vai fazer com que nos lembremos de Juma, Jove, Juventino, Filó, Velho, Bruaca, Guta Regatinha, Irma e todos os outros personagens e elementos que fizeram história em 1990 e está repetindo o feito 32 anos depois.

Sem falar no legado que a novela está deixando para as produções futuras. Novelas longas, sem uma produção de qualidade, sem ritmos, sem carisma e que não geram debates, discussões e tweets, não terão vez.

E por conter tudo isso, afirmamos que Pantanal é o tesouro no fim do arco-íris.

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